Era uma vez um menino muito rico chamado João. Ele era moreno, tinha cabelos escuros e curtos e olhos azuis. Não era muito gordo nem muito magro, não era muito alto nem muito baixo. Era corajoso, teimoso e forte, capaz de qualquer coisa embora só tivesse 12 anos.
Apesar de viver em Portugal, em Santarém, tinha nascido no Rio de Janeiro. Lá, eles adoravam o Carnaval. Faziam sempre grandes festas com máscaras e fatos. Por isso ele também celebrava esta festa.
E foi alguns dias depois do Carnaval, quando as empregadas ainda limpavam o chão todo sujo, cheio de serpentinas e algumas máscaras lá deixadas que aconteceu o seguinte:
- Tenho uma coisa importante a dizer-disse o João com ar triste.
Mas ninguém ligou. Então ele pôs-se a gritar com um ar bastante zangado.
- Quero que toda a gente dentro desta casa venha aqui ouvir.
Toda a gente dentro daquela grande e imponente mansão conseguiu ouvir, mesmo a sua irmã Margarida que estava entretida a ver o seu programa preferido, no seu canal preferido, na sua nova televisão plasma, no quarto.
- Quero que todos se sentem e me oiçam com atenção e sem perguntas-disse já com um ar mais calmo.
Todos cumpriram e ficaram calados a ouvir o que ele tinha para dizer.
- Dentro de uma semana vou partir numa viagem pela Europa. Mas vou voltar é claro. Só não sei quando.
Toda a gente ficou espantada com o que ele estava a contar, mas sempre calados a escutar.
- E não vou levar ninguém comigo. Vou sozinho.
Mas aí começaram as perguntas.
- Mas porque é que te vais embora?
- Não gostas de estar aqui, connosco?
- Porque é que não levas ninguém?
- Posso ir contigo?
Vinham perguntas de todos os cantos daquela grande e elegante sala.
Ele só percebeu e respondeu a uma, à da sua irmã:
- Voltas antes do próximo Carnaval? É que sem ti não é a mesma coisa.
Ele ficou surpreendido com aquela pergunta. Não estava mesmo nada à espera que alguém fosse sentir a sua falta. Especialmente a sua irmã mais nova que lhe estava sempre a pregar partidas.
-Sim...Não...Não sei... Provavelmente.
O ambiente ficou silencioso durante alguns segundos, mas aos poucos foi saindo toda a gente, para regressarem ao que estavam a fazer. Mais ninguém falou nisso durante o resto do dia, mas João sabia que todos eles pensavam na mesma coisa.
Aquela semana passou depressa para maior parte das pessoas que o conheciam. Mas ele achava que tinha passado muito devagar, pois só pensava nas maravilhosas coisas que iria ver durante a sua viagem.
No dia antes de partir, já com as malas prontas, ele despediu-se de toda a gente de que se lembrou. A sua família em primeiro lugar, depois os empregados e empregadas, professores, condutores... toda a gente que trabalhava lá em casa. Mais tarde saiu à rua e despediu-se dos vizinhos, dos amigos e de outras pessoas que ele tinha conhecido enquanto passeava pelo parque ao pé da sua casa.
No dia de partida trataram-no muito bem: acordaram-no gentilmente, fizeram-lhe um grande banquete para o pequeno-almoço, pois tinha que estar preparado, ajeitaram a sua roupa muito cuidadosamente... e no fim, despediram-se de novo, pela última vez antes da viagem começar. Todos sabiam que ia ser uma viagem difícil, pois ia sozinho e tinha que usar diferentes transportes, tais como avião, comboio ou mesmo a pé. Mas ele queria fazê-lo e ninguém se opôs a isso.
Finalmente partiu. Foi de comboio até Lisboa onde apanhou o avião para Barcelona com o dinheiro que os seus pais lhe tinham dado. Eles também lhe tinham oferecido um cartão com o nome e a morada de um velho amigo em Barcelona. O seu nome era Javier.
Capítulo II
João conseguiu chegar a casa de Javier comprando um mapa de Barcelona e perguntando direções a pessoas que iam passando. Fez tudo a pé. Do aeroporto até á casa do Javier.
-Bem... aqui está, -disse João- é esta a casa que vem no cartão.
Ao olhar para cima João viu uma enorme casa com vista para a Sagrada Família.
João bateu à porta e um velho homem de barbas veio abrir.
-Você chama-se Javier, certo?-perguntou João um pouco duvidoso.
-Sim, e tu deves ser o João. Estava à tua espera. Entra, entra!
-Sim, sou o João. Posso-me deitar um pouco? Estou estafado. Andei muito tempo à procura deste sítio.
-Com certeza! Eu levo-te lá.
João subiu as escadas e foi dar a um pequeno quarto. Para ele desde que tivesse uma cama para se deitar a ler um livro estava bem. Leu durante um bom bocado mas acabou por adormecer.
Na manhã seguinte, Javier levou-o a conhecer a Sagrada Família e contou-lhe uma pequena história sobre o seu autor Gaudí (Antoni Gaudí foi o arquiteto catalão que desenhou a “Sagrada Família” e outras obras famosas em Barcelona).
-Quando Gaudi acabou o seu projeto da Sagrada Família, mais ou menos à 140 anos atrás, ele ficou a pensar como seria quando estivesse pronta. Ele até ia para o telhado da sua casa para a ver melhor. É pena que um homem tão bondoso e sábio como ele não tenha a possibilidade de ver a sua melhor obra de arte de sempre concluída. Acredita pois eu conheço-as todas.
-Nem vou duvidar...-disso o João a rir. Não me posso ir embora de Barcelona sem conhecer as obras deste arquiteto que tanto admiras.
Durante vários dias João e Javier percorreram a cidade. Visitaram: a Casa Batlló, a Casa Milà, o Parque Güel. . .
-Então e agora, o que queres fazer? Queres-te ir já embora ou queres ficar mais uns dias para aprenderes mais sobre Gaudí e a sua arte
-Hummm... acho que gostava de ficar.
Ele ficou e aprendeu imenso sobre arte: arquitetura, pintura e escultura.
Quando já estava com as malas á porta pronto para sair e viajar para Paris, Javier disse:
-Fica aqui comigo. Eu vivo sozinho e preciso de alguém como tu que me oiça e que goste de aprender arte. Por favor. Fica aqui comigo.
-Não posso ficar,-disse João seguro do que estava a dizer-tenho de continuar a minha viagem para de pois voltar para casa, para a minha família.
-Está bem. Mas pelo menos deixa-me levar-te até até à estação de comboios.
-OK.
Eles foram até à estação onde se despediram. João partiu para Paris com a morada de Manuel, um amigo português de Javier que trabalha em Paris.
Capítulo III
Ao sair do comboio, João viu um homem alto, de bigode largo e com uma boina que estava a segurar uma placa que dizia: “Onde estás João?”
O João ficou a pensar: “Será que há outro João neste comboio?! Se calhar... ele é o Manuel. Vou perguntar-lhe”.
- Desculpe, por caso chama-se Manuel?-perguntou ele com um ar um pouco envergonhado.
-Sim, sou. Porque perguntas?
-Porque eu sou João.
-És o João! Oh! Desculpa, não sabia que eras tu! Vem comigo. Eu levo-te a minha casa para poderes descansar um pouco.
-Mas espera aí!-disse o João confuso. Pensava que você ia esperar por mim em casa.
-Eu ía, mas tu nunca mais chegavas. Fiquei preocupado.
-O comboio atrasou-se.
-Então vamos. Deves estar cansado e com fome.
Durante a ida para casa:
-Sei que vieste a Paris para visitar todas as coisas belas que ela tem, mas não vou poder ir contigo, pois terei que ir trabalhar.-explicou Manuel.
-Onde é que trabalhas?-perguntou curioso.
-Trabalho na FNAC, na secção de livros de história.
-Posso ir contigo?
-Bem... podes, mas não preferes ir à Torre Eiffel ou ao Museu do Louvre?-disse ele espantado com aquela pergunta.
-Nem por isso. Eu adoro História. Especialmente de Portugal.
-Também eu! Posso te mostrar os livros que há lá sobre a História de Portugal, se tu quiseres, é claro.
-Fixe!!!
Durante o resto do dia, João não fez mais nada a não ser jogar na sua PSP. O Manuel, pelo contrário, ficou a maior parte do tempo a pensar na pergunta do João, “Posso ir contigo?”.
No dia seguinte, Manuel e João acordaram praticamente ao mesmo tempo e prepararam-se para ir trabalhar. Bem, o Manuel ia trabalhar, mas o João só ia lá para o observar e ler alguns livros de História. Quando chegaram, João viu um enorme edifício que lá no topo dizia FNAC em letras grandes e amarelas.
-Uau, que grande edifício!-exclamou impressionado, o João.
-Vamos entrar?-perguntou o Manuel.
-Vamos!Vamos!Vamos!-repetiu João-Depressa!
Ao entrar, João fascinou-se com uma grande variadade de livros, DVD’s e CD’s. Manuel guiou-o à secção de livros. Quando um cliente tivesse alguma questão perguntava-lhe.
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